Pandemia
arranha imagem de uma Europa organizada
Apesar de boa reputação de
diversos países do oeste e do norte europeu, realidade é outra quando se trata
de controlar o coronavírus.
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Com
capacidades no limite: uma unidade de terapia intensiva na capital belga,
Bruxelas |
Alemanha
Durante a primeira onda, a
Alemanha era vista como líder mundial na contenção da pandemia. Há muito tempo,
porém, que o país perdeu esse status.
No final de setembro, quando a
chanceler federal Angela Merkel avisou que poderia haver 19,2 mil novas
infecções diárias no Natal. A declaração foi encarada com ceticismo por
autoridades resistentes à imposição de novas medidas de confinamento. Duas
semanas depois, em reunião com os chefes dos estados federais, o máximo que ela
consegui foi um "lockdown
light", embora defendesse medidas mais rígidas.
Já no início de novembro, o
Instituto Robert Koch, responsável pelo controle e prevenção de doenças
infecciosas na Alemanha, relatou pela primeira vez mais de 20 mil novas
infecções em um dia. Em meados de dezembro e no início de janeiro, as
regras tiveram então que ser reforçadas em todo o país.
Os governadores dos dois estados
federais mais atingidos atualmente, Turíngia e Saxônia, já admitiram erros.
"A chanceler estava certa e eu errado", disse Bodo Ramelow em uma
entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine. Seu colega saxão Michael
Kretschmer também reconheceu que, olhando em retrospecto, teria sido melhor
paralisar o país muito antes, "mesmo que isso tivesse levado a muita
incompreensão por parte da população", conforme citado pelo diário Free
Press, de Chemnitz.
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As escolas continuam fechadas na Alemanha – e a aprendizagem digital nem sempre funciona |
Os erros, porém, não foram observados
apenas no outono europeu, em resposta ao número crescente de infecções, mas
também na preparação para tal situação. No início da pandemia, virologistas e
médicos enfatizaram que o vírus iria se espalhar fortemente na estação mais
fria e que haveria uma segunda onda.
Porém, em vez de usar o verão
para se preparar, o país dormiu no ponto ou simplesmente desperdiçou a
oportunidade, criticaram políticos e associações, entre outros. Ainda faltam
equipamentos digitais nas autoridades de saúde e nas escolas, assim como faltam
conceitos funcionais sobre como manter o ensino durante a pandemia. Em muitos
aspectos, a Alemanha parece ter sido pega de surpresa pela segunda onda.Dinamarca
No início da pandemia, a
Dinamarca também deixou uma boa impressão. A esmagadora maioria dos
dinamarqueses – 95% dos entrevistados – disse que seu governo estava fazendo um
bom trabalho no combate à pandemia, constatou o Pew Research Center durante o
verão europeu.
Até que surgiu o problema dos
visons. Uma mutação do coronavírus foi detectada em alguns desses animais,
criados em grandes quantidades nas fazendas da Dinamarca devido ao valor
comercial de sua pele. Preocupadas com a possibilidade de que a nova versão do
vírus pudesse ser transmitida aos humanos e tornasse as vacinas menos eficazes,
as autoridades dinamarquesas ordenaram a morte de todos os animais. Mais
de 15 milhões de visons foram sacrificados.
Agora, o problema é a carcaça dos
animais, pois os gases de decomposição chegaram à superfície, provocando
temores de que a água potável seja poluída. Em maio, então, os animais deverão
ser desenterrados e queimados.
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Com medo do coronavírus, mais de 15 milhões de visons foram
abatidos em fazendas dinamarquesas
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O escândalo pode ter
consequências graves para a Dinamarca, avaliou Søren Riis Paludan, professor do
Instituto de Biomedicina da Universidade de Aarhus. Em meados de dezembro, ele
disse ao Financial Times que o caso dos visons ofuscou a luta contra
a pandemia no mês anterior: "Durante três semanas, não falamos sobre o
aumento do número de infecções. O foco não estava mais na pandemia, e a
expansão passou despercebida."
Desde então, escolas,
restaurantes e a maioria das lojas estão fechados. Há poucos dias, a Dinamarca
tornou a aumentar as restrições.
Holanda
Por muito tempo, a Holanda não
recorreu ao uso de máscaras em público, limitando-se a determinar sua
obrigatoriedade apenas no transporte local. O governo questionava a utilidade
de tal medida. Só no final de setembro, o país emitiu uma recomendação a favor
do uso da proteção facial como forme de proteger a si e aos outros. Desde 1º de
dezembro, as máscaras são obrigatórias em espaços públicos fechados. Para fins
de referência: a Organização Mundial da Saúde (OMS) as recomenda como meio de
combate à pandemia desde junho.
Uma estratégia de vacinação pouco
clara também foi alvo de duras críticas. "Caótica",
"confusa" e "constrangedora" são os rótulos usados pela
oposição ou pelos médicos. No dia 6 de janeiro, a Holanda se tornou o último
país da UE a iniciar a imunização de sua população – dez dias depois da
Alemanha e de outros países –, embora a vacina já estivesse armazenada no país
há tempos.
O fato de o país ter hesitado em
algumas estratégias pode causar espanto, especialmente quando se leva em
consideração que os hospitais estavam tão sobrecarregados durante a primeira
onda que os pacientes de covid-19 tinham que ser levados para a Alemanha para
receber tratamento.
Bélgica
Contradizendo o clichê de nações
ocidentais bem organizadas, a imagem da Bélgica já estava arranhada antes mesmo
da pandemia de coronavírus. Politicamente, os belgas se encontram numa posição
complicada: com negociações intermináveis para formar uma coalizão de
governo.
O país, cuja capital é a sede da
UE, também luta contra o coronavírus. "Estamos
à beira de um tsunami", disse o ministro da Saúde belga, Frank
Vandenbroucke, em meados de outubro. Na ocasião, os hospitais estavam totalmente
sobrecarregados, os pacientes eram transferidos para países vizinhos e os
profissionais de saúde infectados tinham que continuar trabalhando.
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Com o sistema de saúde sobrecarregado na Bélgica, pacientes
de covid-19 foram acolhidos pela Alemanha |
De acordo com o Centro Europeu de
Prevenção e Controle de Doenças da UE (ECDC), a Bélgica chegou a alcançar o
maior número de novas infecções no bloco em termos populacionais. De acordo com
os dados, a incidência de 14 dias atingiu um pico no final de outubro, com
1.774 novos casos por 100 mil habitantes.
Medidas mais rígidas levaram a
uma melhora da situação no momento atual.
Suécia
Por muito tempo, a Suécia seguiu
um caminho isolado e muito controverso na Europa. Em vez de medidas coercivas,
o país escandinavo recorreu principalmente a apelos à população e a um processo
de infecção natural para obter imunidade coletiva. Mas no outono, o número de
infecções aumentou significativamente.
Em seu discurso de Natal, o rei
Carl 16 Gustaf definiu a estratégia de seu país como um fracasso. "Temos
um número elevado de mortes e isso é terrível", disse o chefe de Estado.
Na sexta-feira (08/01), o parlamento sueco aprovou uma lei dando determinados
poderes ao governo, como ordenar o fechamento de lojas.
Áustria
Quase um ano atrás, a estação de
esqui de Ischgl ganhou notoriedade como impulsionadora da pandemia na Europa.
Uma comissão independente de especialistas confirmou que as autoridades
austríacas cometeram erros e falhas no tratamento do surto na cidade. As áreas
de esqui na Áustria já estão abertas novamente, mas após o fluxo de turistas,
às vezes enorme, algumas regiões tiveram que enrijecer as regras novamente.
Como um todo, o país passa por
uma crise. Poucos demonstraram interesse nos testes
em massa oferecidos no início de dezembro, que, para piorar, foram
acompanhados por avarias técnicas. O chanceler federal Sebastian Kurz também
foi duramente criticado quando acusou imigrantes de terem trazido o vírus para
o país no verão, algo que os números refutam.
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Estações de esqui foram reabertas na Áustria, mas os
turistas geralmente desobedecem as regras de quarentena |
Atualmente, o processo de
vacinação ocorre de maneira bastante irregular no país, com doses não
utilizadas abandonadas em depósitos. Enquanto isso, aumentam os pedidos de
demissão do ministro da Saúde Rudolf Anschober.
França
Na Europa, a França responde pela
segunda maior taxa infecção por covid-19 depois da Grã-Bretanha, de acordo com
dados da Universidade Johns Hopkins. A propagação do vírus só pôde ser contida
com medidas duras. Entre elas, estão toque
de recolher noturno e um raio de locomoção muito pequeno. Devido à
sobrecarga no início do ano, pacientes de covid-19 tiveram que ser transferidos
para a Alemanha, e o procedimento foi repetido no outono como medida de
precaução.
Diante de um início lento na
vacinação, políticos regionais acusaram o governo de Paris de fracasso e de
terem sido deixados de fora no processo de planejamento. "Nós nos tornamos
motivo de chacota global", disse à DW Michaël Rochoy, clínico geral em Outreau,
no norte da França. "Como as coisas podem andar tão devagar em um país que
tem um sistema de saúde nacional tão bom?"
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No limite: profissionais de saúde que trabalham em unidades
de terapia intensiva sofrem estresse constante há meses
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A pandemia também está tendo um impacto inesperado: uma
empresa de eletricidade pediu aos franceses que economizassem energia. Na França,
a maioria das famílias aquece suas casas com eletricidade, algo que agora está
se tornando escasso. Segundo os fornecedores de energia, o motivo está nas
baixas temperaturas aliadas à falta de manutenção.
Mas nem todos os países da Europa têm se saído tão mal em
resposta à pandemia: Noruega e Finlândia têm conseguido surfar bem nesta
segunda onda até aqui.